Muita gente ilustre reagiu de forma assanhada às novas medidas de austeridade.
Será a austeridade a chegar aos bolsos das elites?
Dou um passo em frente e dez passos atrás.
Posso dizer que dei um passo em frente.
Mas, contas feitas, terei recuado nove passos.
O governo baixou a taxa de segurança social para as empresas.
Poderá (em teoria) dizer que tomou uma medida para diminuir o desemprego.
Mas, com tantas outras medidas de efeito contrário, no final o desemprego acabará por subir.
Mário Soares não vai hoje à Assembleia da República.
Há radares na Avenida da República.
A primeira imagem é do dia 17 de março. Visita de Cavaco Silva a Alijó. Manifestação de supostos ambientalistas. Impropérios dirigidos ao presidente.
A segunda imagem é de 22 de março. Greve geral. Manifestação da suposta Plataforma 15 de outubro. Desacatos no Chiado e intervenção policial.
Parecem os mesmos, não é?
Nada contra o direito à manifestação, mas anda por aí muito tubarão disfarçado de carapau.
Haja também quem os desmascare.
Hoje: Greve geral.
Amanhã: 25 de Novembro.
Manuais escolares em formato electrónico.
Disponibilizados para download pelas escolas e pelo ministério.
Poupava-se o ambiente.
Poupavam-se as costas dos alunos.
Dava-se alguma utilidade aos Magalhães.
Era uma ideia.
"Na acção governamental as dissensões são perpétuas. O partido histórico propõe um imposto:
- Caminhamos para a ruína! exclama o presidente do conselho O deficit cresce! O país está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc.
Mas então o partido regenerador, por exemplo, que está na oposição, brame de desespero, reúne-se o centro:
- Como assim! exclamam todos, mais impostos?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, conspira-se. Prepara-se o xeque ao ministério, vem a votação... Zás! Cai o ministério histórico.
E ao outro dia, o partido regenerador no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S. Bento.
Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram, as transacções suspenderam-se, o crédito diminuiu, a opinião descreu mais, a fé pública dissolveu-se mais mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre-se a sessão parlamentar: o novo ministério regenerador vai falar.
- Tem a palavra o novo presidente do conselho.
- O novo presidente: Um ministério nefasto caiu perante a reprovação do país inteiro. O país está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...
(Ouçam! Ouçam!)
É por isso que peço que entre já em discussão... o imposto que temos a honra, etc.
(Apoiado! Apoiado!)
E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição.
- Meus senhores, diz o presidente: O país está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder e já entra pelo caminho da anarquia e da opressão, propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o país a esta última desgraça! Guerra ao imposto!
Não, não! com estas divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!"
Eça de Queirós, "As Farpas", Maio de 1871
Nota: Publiquei este texto neste blog a 5 de Junho de 2005. Achei por bem republicá-lo hoje.
Governo com 12 ministérios. Três ministros para o CDS.
Louçã deixou de ter causas para defender, daquelas típicas de um partido temático, em que se vota por um ou dois motivos específicos e não por uma visão ideológica global da sociedade. Quem, no passado, votou no Bloco por causa das bandeiras, deixou agora de ter razões para o fazer.
Quando já quase não restam bandeiras, repara-se mais na ideologia. E esta assustou muita gente, que (finalmente) se terá apercebido de que andava a votar num partido comunista. Pior, num partido comunista com um discurso igual ao do PCP. Para isso, basta o PCP.
O resultado está à vista: quem recusa o comunismo, recusou o Bloco; quem o perfilha, preferiu o original.
Votos inúteis? Ocorrem-nos imediatamente os votos em branco e nulos (223 mil votos nestas eleições), mas há outros.
Há os cerca de 505 mil votos que foram directamente para o lixo, ou seja, que não serviram para eleger qualquer deputado
Há ainda os votos que, não indo directamente para o lixo, vão lá parar numa segunda fase: são os votos acima do necessário para obter um determinado mandato (e que ainda não calculei).
Os votos que não elegeram qualquer deputado representaram cerca de 10% dos votos validamente expressos. Somados aos votos em branco e nulos, representam mais de 13% das pessoas que foram votar. E ainda haveria que lhes adicionar os votos supérfluos para a eleição de um determinado deputado.
É muito voto. É muito desperdício. Algo terá de mudar no nosso sistema eleitoral.
Prince Richard: He's here. He'll get no satisfaction out of me. He isn't going to see me beg.
Prince Geoffrey: My you chivalric fool... as if the way one fell down mattered.
Prince Richard: When the fall is all there is, it matters.
James Goldman - "The Lion in Winter"
Dia de reflexão. Sábado de Aleluia, chamam-lhe muitos, já saturados de tanta campanha eleitoral. Dia inútil, acharão outros, que não se importariam de ver a campanha eleitoral prolongada até ao fecho das urnas. Dia estranho, parece-me a mim, jamais deixando de me surpreender com a súbita mudança de tom da programação noticiosa.
Esta mudança ocorre logo ao bater das doze badaladas, quando a azáfama de fim de campanha se transforma instantaneamente em silêncio absoluto. Ao bom estilo de Craig Ferguson, quando os seus convidados optam por uma akward pause para terminar a entrevista.
Eis uma boa maneira de curtir a ressaca do debate político: pôr em dia os Late Late Shows de Craig Ferguson, o melhor programa do Late Night americano (pelo menos daquele a que tenho acesso). O próprio apresentador disponibiliza o seu programa na Internet, via Youtube, poucas horas após a sua emissão (horas e não semanas, como acontece com outros talk shows que passam na nossa TV por cabo).
Campanha eleitoral? Balls!
Obs: Excerto do artigo “Não Vou Votar”, de Carlos Abreu Amorim, publicado no Diário de Notícias de 19-01-2011. Sim, de 2011.
Solaris. Planeta estranho, com capacidades únicas. Capaz de ler a mente dos que o orbitam. E de materializar as suas ilusões.
Como reagem os humanos a esta materialização? De maneiras distintas. Uns regressam à Terra, preferindo a realidade à ilusão. Outros enlouquecem e suicidam-se. Outros ainda entregam-se a Solaris, cientes da ilusão, mas tão doce, tão melhor do que a vida que tinham e que teriam outra vez se voltassem à Terra.
Em Portugal, e a avaliar pelas sondagens, muitos optariam por viver em Solaris. Só que Solaris não existe. Queiram ou não, resta-lhes a realidade.
Ou a loucura.
Catroga foi de férias. Deixou de se enfatizar a economia. Floresceram os pentelhos.
Não é Catroga que está a precisar de uma estada no Brasil. É a campanha eleitoral que está a precisar, urgentemente, de uma brasileira.
– “Troika não. Triunvirato” – corrigiu-me o João, numa destas noites em que costumamos jogar conversa fora no bar do António. Fã confesso de Paulo Portas, não vale a pena retorquir-lhe com a sensibilidade variável de Portas aos estrangeirismos consoante a sua geografia. “Troika” não que é feio (é russo e basta), mas vai-se ao seu manifesto eleitoral e lá encontramos, a espaços é certo, americanices tão fashionable como “cluster”, “outsourcing”, “task force” e “benchmark”. Inglês técnico, passemos à frente.
– “Triunvirato não, pá, que me lembras os romanos, com aquelas togas e tudo” – respondo, por sobre a música, ao mesmo tempo que procurava imaginar a efígie de Poul Thomsen com uma daquelas pencas à Júlio César plantadas no meio da cara. Não, ainda não estou assim tão bêbado.
– “Triunvirato? Estão a falar do quê?” – intromete-se o Pedro, que tem este hábito ligeiramente irritante de entrar nas conversas a meio – “Ah, de economia. Que parvoíce a minha. Como ouvi falar em romanos, pensei que estivessem a falar daquele período imediatamente antes do fim da República.”
Fez-se silêncio. – “Caramba, será que o Paulo Portas tem razão?”
Nota: Texto originalmente publicado no Delito de Opinião, por amável convite de Pedro Correia.
Os turbantes, convenhamos, não passam despercebidos. De tal modo que pensei tratar-se de uma estratégia nova do PS nesta campanha: apelar ao voto junto das comunidades de imigrantes, habitualmente mais propensas à abstenção. A vida está difícil, e todos os votos são bem-vindos.
Piedosas intenções. Infelizmente, não confirmadas. Tudo não passou afinal de uma encenação. Sócrates pôs figurantes a fazer de alunos quando visitou escolas. Alguém se espanta que ponha agora figurantes a fazer de apoiantes quando visita o país?
O problema terá sido arranjar figurantes. Parece que não havia gente suficiente para fazer de apoiante de Sócrates. Pelo que, sem alternativas, o PS terá recorrido à solução do costume: entregar a imigrantes aquelas tarefas que os portugueses rejeitam.
Posso estar enganado, mas acho que Al Gore nunca chegou a ser algemado.
Gosto da Volta à França. De a acompanhar pela televisão. Gosto do espírito de sacrifício, do trabalho de equipa, da narrativa única que cada etapa oferece. Gosto de assistir à ascensão dos heróis, se não ao Olimpo, pelo menos ao Tourmalet ou a Alpe d'Huez. E gosto dos comentários de Marco Chagas.
Aprendi com Marco Chagas que, nestas etapas de montanha, muitos ciclistas dão tudo por tudo para permanecerem no pelotão da frente. Para não descolarem dos melhores, apesar de não estarem à sua altura. Só que a subida é longa, e o desfecho (quase sempre) inevitável: um a um, estes ciclistas estouram, acabando por se arrastar montanha acima, amiúde ultrapassados por aqueles ciclistas que, tendo optado por não acompanhar o pelotão da frente, acabam por encontrar o seu ritmo e terminar a etapa numa posição digna.
Não percebo por isso a imagem, roubada ao ciclismo, usada entre nós aquando da adesão ao euro. Portugal teria de integrar o pelotão da frente. A qualquer custo. Apesar de não ter fôlego nem pernas para o acompanhar.
Nunca um estouro foi mais fácil de prever. Mesmo por quem não percebe muito de economia. Bastaria apenas assistir ao Tour.
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