É já bastante conhecido o argumento de que a existência de múltiplas candidaturas à esquerda contribui para diminuir a abstenção neste sector político. Concordo com o argumento.
Menos discutida tem sido a abstenção à direita. Para este eleitorado, não há nenhuma candidatura particularmente entusiasmante: todos os candidatos são de esquerda, pelo que lhe resta optar pelo menos esquerdista de todos: Cavaco Silva. Admito por isso que muitos eleitores de direita se encontrem divididos entre Cavaco e a abstenção.
Apesar da hagiografia oficial, creio que Cavaco é um dos políticos mais hábeis (em todos os sentidos) que Portugal conheceu após o 25 de Abril - nesta campanha, talvez só Mário Soares se lhe possa comparar (mas sem nunca o compreender).
"The biggest trick of the devil is to convince people that he does not exist", diz a expressão anglo-saxónica. Mal comparado, a maior habilidade de Cavaco é convencer as pessoas de que não é político, e de que não tem qualquer interesse na política.
Embora lhe reconheça honestidade e competência, não simpatizo particularmente com todas as facetas da imagem que Cavaco nos quer dar de si.
No entanto, após o debate Cavaco - Soares, e perante a baixeza que este último candidato por vezes atingiu, sinto-me mais motivado do que antes para votar Cavaco. Após este debate, a escolha deixou de ser apenas ideológica e racional, passando também (sobretudo?) a ser emocional e pessoal.
Escolher entre Cavaco e Soares passou a ser escolher entre educação e falta de chá, entre objectividade e narcisismo, entre respeito e arrogância.
Propostas e ideologias à parte, há duas condições sine qua non para quem quer ser presidente: respeitar os outros e ser respeitável. Ao escolher atacar tão rasteiramente Cavaco, Soares facilitou a escolha à direita: a escolha deixou de estar no campo da ideologia para passar a estar sobretudo no campo do carácter.
Se antes do debate a direita ponderava votar a favor de Cavaco, após o debate a direita passou a querer votar contra Soares.
Arrisco por isso dizer que, com este debate, Mário Soares perdeu mais do que ganhou. Pode eventualmente ter reforçado a sua posição à esquerda, mas contribuiu decisivamente para reduzir a abstenção à direita aumentando o universo de votantes e o número daqueles que não irão votar em si.
Soares até pode ter ganho votos com este debate, mas seguramente que perdeu percentagem de votação.
"Isaltino Morais demitiu-se do Governo presidido por Durão Barroso em Abril de 2003, na sequência da divulgação da existência de contas bancárias na Suiça que não terão sido declaradas ao fisco e ao Tribunal Constitucional (obrigatório em caso de detentores de cargos públicos)."
Portugal Diário - 2005-06-30
"Teixeira dos Santos não entrega declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional desde 2000. Mas deveria informar sobre qualquer alteração nos seus vencimentos e triplicou o salário de presidente da CMVM em 2001."
O Independente - 2005-07-22
Isaltino Morais não declarou rendimentos ao Tribunal Constitucional? Então demita-se, pois é impensável ter no governo alguém que não cumpre as leis.
Teixeira dos Santos não declarou rendimentos ao Tribunal Constitucional? O não cumprimento da lei foi apenas um mero lapso, que em nada o impede de assumir funções governativas.
Estará a direita sujeita a regras éticas mais rígidas do que a esquerda? Será que o que é inaceitável nos outros é tolerável nos nossos?
"To govern the United States you must move to the right. To win an election, you must move to the left" (citação de uma personagem de "The Golden Age", de Gore Vidal).
Por outras palavras: não é possível ganhar eleições sem o apoio da esquerda, mas só é possível governar um país com o apoio da direita.
A direita pode perder eleições, mas nunca perde governos.
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